Maçonaria – Entre a verdade e os mitos.

Maçonaria – Entre a verdade e os mitos.

A Maçonaria, também conhecida como a “Arte Real”, é uma das organizações fraternas mais antigas e secretas do mundo, com origens que remontam à Idade Média na Europa. Embora suas origens exatas sejam difíceis de precisar, a Maçonaria moderna surgiu a partir das guildas de pedreiros e construtores de catedrais na Idade Média, especialmente no Reino Unido. Em 1717, foi fundada a primeira Grande Loja de Londres, o que marca o início da Maçonaria especulativa, ou seja, uma versão mais filosófica e simbólica da antiga Maçonaria operativa (dos pedreiros).

História da Maçonaria

  1. Origens na Maçonaria Operativa:
    • As primeiras guildas de pedreiros eram compostas por trabalhadores que construíam igrejas e catedrais. Esses grupos tinham seus próprios rituais e sistemas de aprendizado para transmitir conhecimentos técnicos.
    • A palavra “Maçom” vem do termo francês “maçon,” que significa pedreiro.
  2. Transição para a Maçonaria Especulativa:
    • No final do século XVII e início do XVIII, a Maçonaria passou a admitir membros que não eram pedreiros, como filósofos, cientistas e políticos, transformando-se em uma fraternidade filosófica.
    • A fundação da Grande Loja de Londres, em 1717, é considerada o marco da Maçonaria moderna.
    • Durante o século XVIII, a Maçonaria se espalhou pela Europa e pelas colônias americanas, influenciando figuras políticas importantes como George Washington, Benjamin Franklin e outros líderes da Revolução Americana.
  3. Iluminismo e Revoluções:
    • A Maçonaria teve grande impacto durante o Iluminismo, promovendo ideias como liberdade, igualdade e fraternidade, que influenciaram revoluções importantes, como a Revolução Francesa.
    • Devido à sua influência política, muitos governos e religiões passaram a ver a Maçonaria com desconfiança, o que levou à proibição em vários países.
  4. Século XIX e XX:
    • No século XIX, a Maçonaria se expandiu para a América Latina e África, continuando a influenciar líderes políticos e sociais.
    • No século XX, a Maçonaria enfrentou perseguições em regimes totalitários, como a Alemanha nazista e a Itália fascista. Nessas épocas, muitos maçons foram presos ou perseguidos.

Estrutura e Simbolismo

A Maçonaria é conhecida por seu uso de simbolismos e rituais. Alguns dos símbolos mais comuns incluem:

  • O Esquadro e o Compasso: Representam a moralidade e a busca pelo conhecimento.
  • A Pedra Bruta e a Pedra Polida: Símbolos do trabalho interior do maçom para aperfeiçoar-se.
  • O Olho que Tudo Vê: Representa a vigilância divina e a busca pela verdade.

A organização é composta por várias “Lojas”, que são grupos locais de maçons. As lojas são supervisionadas por “Grandes Lojas” em nível nacional ou estadual.

A Maçonaria possui três graus principais:

  1. Aprendiz: Primeiro grau, simbolizando o começo da jornada.
  2. Companheiro: Segundo grau, em que o maçom aprofunda seu conhecimento.
  3. Mestre Maçom: Terceiro e mais alto grau básico, onde se alcança a maturidade maçônica.

Além disso, existem ritos como o Rito Escocês Antigo e Aceito e o Rito de York, que oferecem graus adicionais e são praticados em vários países.

Atualidades

A Maçonaria continua a existir em várias partes do mundo, embora não tenha a mesma influência política que teve em séculos passados. Em muitos países, ela é vista como uma sociedade benéfica, dedicada à caridade e à melhoria pessoal.

  1. Presença Global:
    • A Maçonaria está presente em quase todos os países, com exceção daqueles onde o governo proíbe sua existência, como alguns países muçulmanos e regimes autoritários.
    • Nos Estados Unidos, a Maçonaria continua ativa, com milhões de membros, e tem envolvimento em várias atividades de caridade.
  2. Desafios Atuais:
    • A Maçonaria enfrenta o desafio do envelhecimento de seus membros, com poucas novas gerações se interessando pela fraternidade.
    • Além disso, enfrenta críticas e teorias da conspiração, muitas vezes associada a noções errôneas de poder oculto global, especialmente em discussões na internet.
  3. Charidade e Filantropia:
    • Em muitos lugares, a Maçonaria é conhecida pelo trabalho filantrópico, financiando hospitais, bolsas de estudo e causas humanitárias.
    • Nos EUA, os Shriners (um subgrupo maçônico) mantêm hospitais pediátricos de alta reputação.
  4. Sigilo e Modernidade:
    • A Maçonaria mantém uma aura de sigilo, especialmente em torno de seus rituais, o que continua a atrair curiosidade e controvérsia.
    • Em alguns lugares, a organização tem tentado modernizar-se e ser mais aberta, mas ainda enfrenta o desafio de atrair novos membros.

A Maçonaria continua sendo uma organização cheia de mistério e tradições, sendo um importante legado histórico de fraternidade e filosofia.


Os Landmarks

Os Landmarks são os princípios fundamentais e imutáveis da Maçonaria, estabelecidos desde os primórdios da fraternidade e vistos como as “leis” ou “regras” que definem a essência da Maçonaria ao longo do tempo. Embora a palavra “landmark” seja usada para descrever algo que é um marco ou um ponto de referência, no contexto maçônico, os Landmarks são entendidos como aqueles princípios que não podem ser alterados sem que a Maçonaria perca sua identidade.

Origens dos Landmarks

A ideia dos Landmarks remonta aos primeiros anos da Maçonaria especulativa, quando o conceito de preservar certos ensinamentos e práticas tornou-se fundamental para garantir a continuidade da tradição maçônica. Eles são geralmente aceitos como sendo transmitidos de forma oral ou incorporados aos primeiros regulamentos escritos da Maçonaria, como as Constituições de Anderson, de 1723, que são uma das fontes mais antigas de princípios maçônicos.

Contudo, ao contrário de outras leis maçônicas, os Landmarks não foram codificados de maneira formal e oficial por uma autoridade maçônica universal. Isso resultou em diferentes interpretações e listas de Landmarks em várias jurisdições maçônicas.

Principais Landmarks (de acordo com Albert Mackey)

Albert Mackey, um influente maçom e estudioso da Maçonaria do século XIX, desenvolveu uma lista de 25 Landmarks que são amplamente reconhecidos. Esses Landmarks de Mackey são os mais comumente citados, embora diferentes Grandes Lojas possam ter suas próprias interpretações. Aqui estão alguns dos mais importantes:

  1. Crença em um Ser Supremo: Um dos Landmarks mais fundamentais é que todo maçom deve acreditar em um Ser Supremo (Deus ou o “Grande Arquiteto do Universo”). A Maçonaria, no entanto, não exige que seus membros sigam uma religião específica.
  2. Segredo dos Rituais: A manutenção do sigilo sobre os rituais, ensinamentos e práticas da Maçonaria é essencial. Esse segredo maçônico é um dos Landmarks que sempre foi estritamente observado.
  3. A Divisão em Três Graus: A estrutura tradicional de três graus — Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom — é imutável. Esses três graus formam a base da iniciação maçônica.
  4. A Lenda de Hiram Abiff: A lenda de Hiram Abiff, o mestre construtor do Templo de Salomão, é central no grau de Mestre Maçom e considerada um dos pilares dos ensinamentos simbólicos da Maçonaria.
  5. O Governo da Fraternidade por uma Grande Loja: Toda jurisdição maçônica deve ser governada por uma Grande Loja, composta por mestres e representantes das Lojas sob sua autoridade.
  6. A Proibição de Discussões Políticas e Religiosas: Dentro das Lojas Maçônicas, é proibido discutir questões de política e religião, a fim de preservar a harmonia e a fraternidade.
  7. O Uso de Simbolismo Específico: A Maçonaria se baseia fortemente em simbolismo para transmitir seus ensinamentos. O uso de símbolos como o esquadro, o compasso e o Templo de Salomão são fundamentais e não podem ser alterados.
  8. Reconhecimento de Maçons: O direito de um maçom ser reconhecido como tal em qualquer lugar do mundo é um Landmark. Isso garante que, em qualquer lugar, um maçom será tratado como irmão por outros maçons.
  9. Igualdade entre os Membros: Independentemente de sua posição na sociedade, todo maçom é considerado igual dentro da Loja. Isso significa que, no ambiente maçônico, as distinções de classe ou status social são removidas.
  10. O Juramento e as Obrigações: Cada maçom deve prestar um juramento solene de compromisso com os princípios e segredos da fraternidade.

Importância dos Landmarks

Os Landmarks garantem a uniformidade dos princípios da Maçonaria ao longo do tempo e entre as diferentes jurisdições. Sem eles, a Maçonaria perderia sua essência e se tornaria indistinguível de outras organizações. Por isso, são considerados invioláveis, e qualquer modificação nos Landmarks seria vista como uma ameaça à continuidade e autenticidade da ordem.

Diversidade nas Interpretações dos Landmarks

Apesar da importância dos Landmarks, há uma falta de consenso universal sobre quantos são e quais exatamente são seus conteúdos. Diferentes Grandes Lojas, especialmente no Reino Unido e nos Estados Unidos, têm interpretações ligeiramente diferentes, algumas aceitando a lista de Mackey, outras elaborando suas próprias listas ou interpretando os Landmarks de forma mais aberta.

Por exemplo:

  • A Grande Loja Unida da Inglaterra (UGLE) não tem uma lista codificada de Landmarks como a de Mackey, mas segue princípios similares.
  • Nos Estados Unidos, muitas Grandes Lojas seguem a lista de Mackey, embora não de forma universal.

Atualidade dos Landmarks

Atualmente, a observância dos Landmarks ainda é central para as práticas da Maçonaria. Contudo, à medida que a sociedade muda, a Maçonaria enfrenta discussões internas sobre a modernização e adaptação de alguns de seus costumes, embora os Landmarks continuem sendo um ponto de ancoragem para manter a tradição intacta.

Por exemplo, questões como a admissão de mulheres e a inclusão de ateus são pontos de discussão, uma vez que violam os Landmarks tradicionais (como a crença em um Ser Supremo e a exclusão de mulheres nas Lojas regulares).

Em resumo, os Landmarks representam os princípios imutáveis da Maçonaria, garantindo sua continuidade e coesão ao longo dos séculos. Embora existam variações em suas interpretações e listas, eles são amplamente respeitados como os pilares que sustentam a fraternidade maçônica.


A Maçonaria no Brasil

A Maçonaria no Brasil tem uma história rica e influente, com raízes que remontam ao período colonial e uma forte presença em eventos importantes da formação do país. A organização desempenhou um papel relevante na independência do Brasil, na abolição da escravidão e em outros momentos cruciais da história nacional. Aqui está uma visão geral sobre a Maçonaria no Brasil, desde suas origens até os dias atuais.

Origens da Maçonaria no Brasil

A Maçonaria chegou ao Brasil no início do século XIX, ainda durante o período colonial. Contudo, a presença maçônica só começou a se consolidar após a vinda da corte portuguesa ao Brasil, em 1808, com Dom João VI. Nesse período, com a abertura dos portos e a modernização de algumas instituições, as ideias iluministas, muitas vezes ligadas à Maçonaria, ganharam força.

  • Primeiras Lojas: A primeira loja maçônica do Brasil foi fundada em 1802, chamada “Reunião”, mas tinha caráter limitado devido às restrições do governo português. No entanto, a Loja “Comércio e Artes”, fundada em 1815, é considerada a primeira loja regular e significativa da Maçonaria brasileira. Ela estava localizada no Rio de Janeiro e se tornou um centro de debates políticos e sociais.
  • Influências Iluministas: A Maçonaria, tanto no Brasil quanto em outros países, foi influenciada pelos ideais do Iluminismo, promovendo princípios como liberdade, igualdade e fraternidade. Isso teve um impacto direto nas lideranças maçônicas, que estavam envolvidas em movimentos de emancipação política e social.

A Maçonaria e a Independência do Brasil

A Maçonaria desempenhou um papel decisivo no processo de independência do Brasil, liderado por figuras proeminentes que eram maçons.

  • Dom Pedro I e José Bonifácio: Dom Pedro I, o primeiro imperador do Brasil, foi iniciado na Maçonaria e, por um período, esteve ligado aos ideais maçônicos. Ele chegou a ser Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil. Já José Bonifácio de Andrada e Silva, considerado o “Patriarca da Independência”, também era maçom e, ao lado de outros líderes maçônicos, articulou os planos para a independência.
  • Grande Oriente do Brasil (GOB): Fundado em 1822, o Grande Oriente do Brasil é a obediência maçônica mais antiga e tradicional do país. A fundação do GOB está intimamente ligada ao movimento pela independência. Muitos dos líderes envolvidos na proclamação do “Grito do Ipiranga”, em 7 de setembro de 1822, eram maçons.

A Maçonaria e a Abolição da Escravatura

Outro grande marco da história brasileira em que a Maçonaria teve papel fundamental foi a luta pela abolição da escravatura. Durante o século XIX, várias lojas maçônicas, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, começaram a promover ideias abolicionistas e a apoiar campanhas pela liberdade dos escravos.

  • Rui Barbosa: Uma figura central nesse movimento foi Rui Barbosa, jurista e maçom, que lutou contra a escravidão e, posteriormente, pela destruição dos documentos oficiais relacionados à posse de escravos.
  • Princesa Isabel: Embora não tenha sido membro da Maçonaria, a Princesa Isabel, que assinou a Lei Áurea em 1888, foi apoiada por muitos maçons em sua decisão de abolir a escravidão no Brasil.

Maçonaria e a Proclamação da República

A Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, também teve forte envolvimento maçônico. Muitos dos principais líderes do movimento republicano, como Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil, eram maçons. A Maçonaria era vista como um espaço para o desenvolvimento de ideias progressistas e liberais, que contrastavam com a monarquia.

A Maçonaria no Século XX

Durante o século XX, a Maçonaria no Brasil continuou a influenciar a política e a sociedade, embora tenha se afastado um pouco das suas atividades políticas diretas e focado mais em questões sociais e filantrópicas.

  • República Velha: Durante o início da República, a Maçonaria teve influência no campo político e social, mas com o passar do tempo, foi se voltando mais para atividades filantrópicas e educacionais.
  • Ditadura Militar: Na ditadura militar (1964-1985), a Maçonaria passou por um período de reclusão. Embora existissem maçons nos dois lados do espectro político, muitos líderes maçônicos que defendiam a democracia e os direitos civis foram perseguidos.

Maçonaria no Brasil Contemporâneo

Hoje, a Maçonaria no Brasil é uma das maiores e mais ativas do mundo, com milhares de membros espalhados por diversas lojas no país. No entanto, a sua atuação atual está mais focada em atividades filantrópicas, educacionais e culturais, ao invés de atividades políticas.

  1. Filantropia: A Maçonaria brasileira é muito envolvida com atividades de caridade, apoiando hospitais, lares de idosos, orfanatos e outras causas sociais.
  2. Educação: Diversas lojas maçônicas mantêm escolas e projetos educacionais, oferecendo educação para crianças carentes e promovendo o desenvolvimento intelectual.
  3. Divisões Maçônicas: Hoje, existem diferentes obediências maçônicas no Brasil. As três maiores são:
    • Grande Oriente do Brasil (GOB): A obediência mais antiga, fundada em 1822.
    • Grandes Lojas: Surgiram em meados do século XX como uma alternativa ao GOB.
    • Grande Oriente Independente: Uma terceira obediência que surgiu de dissidências.

Desafios Atuais

A Maçonaria no Brasil, assim como em outras partes do mundo, enfrenta o desafio da diminuição do número de membros, à medida que as novas gerações demonstram menos interesse pelas tradições e rituais maçônicos. Além disso, a organização ainda lida com o preconceito e as teorias da conspiração, muitas vezes associadas à Maçonaria por falta de conhecimento público sobre suas atividades.

Por outro lado, a Maçonaria brasileira continua a se adaptar aos tempos modernos, buscando uma maior transparência e abrindo-se mais à sociedade em questões de caridade e filantropia.

A Maçonaria no Brasil tem uma história longa e de grande importância política, social e cultural. Desde a luta pela independência e a abolição da escravatura até sua presença na formação da República, os maçons brasileiros desempenharam papéis significativos nos momentos cruciais da história do país. Atualmente, a Maçonaria mantém sua relevância em atividades sociais e de filantropia, continuando a promover seus valores de liberdade, igualdade e fraternidade.

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